Edson Bergara, o audaz
Edição 205 - OUTUBRO 2010 - VICENT SOBRINHO
Todo e qualquer participante de corridas de rua entre 1972 e 1999, sejam atletas comuns ou recordistas BRASILEIROS da época como José Romão e Eloi Schleder, assim como os campeões da São Silvestre, José João da Silva e João da Mata, ao ouvirem o nome Edson Bergara logo o associam a pódios e vitórias. Afinal, após o tiro de largada, todos os corredores daquela época apenas o viam pelas costas. Sua principal característica era sempre largar forte e se distanciar na frente já na primeira parte da corrida, para quase sempre chegar à frente dos demais. Durante os 34 anos que competiu, Bergara chegou a acumular quase 2 mil troféus!
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Apesar desse currículo, a maioria dos milhares de corredores brasileiros da atualidade nada sabe sobre Edson Bergara. Por essa razão, fomos atrás desse desaparecido recordista BRASILEIRO de maratona e o encontramos trabalhando como mestre de obras na periferia de São Paulo. Afastado
das corridas há quase uma década, ele hoje com 58 anos continua magro e com o mesmo biotipo
de épocas áureas do atletismo, e nos conta aqui algumas histórias de sua carreira vitoriosa.
DE "BICÃO" À ELITE. Nascido em Itapevi, SP
Bergara recordou o início de sua carreira nas corridas de rua: "Fui de bicão em minha primeira corrida, em 1972, por insistência de um AMIGO que era atleta no EC Corinthians; a prova em Carapicuíba tinha 7 km e fazia parte de um circuito nos bairros realizada pelo jornal Gazeta Esportiva." Edson logo de cara sentiu o gostinho da vitória em seu primeiro desafio e aos 18 anos se consagrou, ao vencer quase todo aquele circuito.
NADA DE ALONGAMENTOS E MUSCULAÇÃO.
Edson conta que nos primeiros anos só havia roupas de algodão e que as opções de calçados eram Conga ou o Kichute; "cheguei a ganhar corridas calçando kichute, que era para JOGAR futebol". Bergara não se recorda de ter ficado muito tempo fora dos treinamentos. "Nunca me lesionei seriamente, talvez por sempre me manter muito magro. Não gostava de fazer musculação e muito menos alongamentos. Rebelde, Edson tomava muita bronca de seus técnicos pois sempre dava um jeito um jeito sumir, para fugir dos alongamentos e da musculação. Mas nos treinos era muito dedicado, sendo normal em dois períodos, rodagem pela manhã e tiros no fim da tarde. Bergara não deixava ninguém treinar na sua frente. "Era importante para mim ficar na frente, tanto no treino quanto na corrida; nunca gostei de ficar atrás, e nos treinos em grupo só corria na ponta."
3º A BAIXAR OS 30 MINUTOS NOS 10.000 M.
Em 1974 o jovem Bergara já chamava atenção de muitos clubes e começava também a vencer nas pistas de atletismo. "Gostei da pista e no meu primeiro ano venci provas de 800 até 10.000 metros. José Romão de Andrade foi o primeiro atleta brasileiro a baixar os 30 minutos nos 10 mil, Eloi Schelder o 2º
e em 1979 Bergara venceu os 5.000 m no campeonato paulista e os 10.000 m no Troféu Brasil com o tempo de 29:45.
HINO NACIONAL: CIDADE MARAVILHOSA!
Entre muitas viagens ao exterior Bergara gosta de lembrar um dos momentos que acompanhou
o triplista João do Pulo. "Em 1979 fomos ao Chile, no Torneio Orlando Guaitá, e uma corrida de rua fechava o evento; na hora de eu receber a medalha, o
João ria muito, pois ao invés de tocarem o hino nacional, tocaram Cidade Maravilhosa, que para
mim é o hino carioca."
EM 7º, A MELHOR SÃO SILVESTRE.
Apesar das muitas vitórias nas mais diversas distâncias, a melhor colocação de Bergara na São Silvestre foi 7º lugar. "Eu nunca consegui correr bem a SS, talvez porque fizesse muitas provas e não me preparava especificamente para ela. Era comum correr uma prova no sábado e outra no domingo, por vezes em estados diferentes." Com exceção da São Silvestre, Bergara venceu praticamente todas
as principais corridas de rua do Brasil.
SEM PREMIAÇÃO EM DINHEIRO.
Em 1976 Bergara venceu 38 provas e chegou em 2º lugar em outras 4. Ele recorda que o que mais atraía os corredores eram as corridas que ofereciam troféus grandes. "Gostávamos de correr em cidades como Cotia, Cornélio Procópio, Avaré e São Roque, pois quase sempre troféu era o único prêmio; era difícil receber dinheiro, conseguido com a venda de brindes conquistados, como geladeiras, bicicletas, televisores etc. Eram tantos os objetos, que eu vendia ou dava de presente em casamentos de amigos, que certa vez pensei até em abrir um bazar."
MOTORISTA PARTICULAR.
Apesar das premiações sem dinheiro, Bergara recebia pagamento do clube que defendia (e foram quase uma dezena), além de certa mordomia. "Para poder participar de duas provas nos fins de semana, cheguei a contar com um motorista à minha disposição, além de eventualmente dispor de passagens de avião, desde que competisse bem e de preferência vencesse
as provas." Ele recordou também que eram tempos de ditadura e por ser um dos principais maratonistas da época, era escalado pela Confederação Brasileiro de Atletismo para representar o
país no exterior, o que lhe proporcionou conhecer os cinco continentes e aumentou seus rendimentos.
OS PRIMEIROS PARES DE TÊNIS IMPORTADOS.
Somente após 10 anos de carreira, Bergara passou a usar tênis importados, apropriados para corrida. "Fui um dos primeiros a usar esses modelos, que eram bem diferentes dos usados por aqui eu em sentia um astronauta porque eles chamavam atenção; eu até emprestava para amigos correrem, mas demoravam para voltar e às vezes vinham todo estropiados." Em uma Maratona do Rio, que era tão importante quanto a SS na época, Edson competiu com tênis importados, mas remendados com esparadrapos. "Quando comecei a viajar ao exterior foi mais fácil adquiri-los, apesar de serem muito caros, pois ainda eram calçados especiais."
MARATONAS AQUI E LÁ FORA.
Imaginem uma largada às 14 horas em Maceió. Foi assim que, em 1979, Bergara experimentou sua primeira maratona. "Mesmo com o sol a pino, venci em 2h26, um bom tempo para quem estreava." Algumas semanas depois ele ganhou novamente uma maratona no Espírito Santo. Em novembro desse mesmo ano Bergara fez sua estréia na Maratona do Rio; "o americano Greg Meyer venceu e fiquei em segundo, e por ter sido o melhor brasileiro fui convidado a correr a maratona de Honolulu no Hawaí." Inácio Werneck, editor do Jornal do Brasil e da Revista Viva, foi quem acompanhou Bergara. "Ele me levou para minha primeira maratona no exterior; era uma prova de ida e volta, e o Inácio deu todas as dicas, pois a prova era em milhas e eu não estava acostumado com a marcação. A maratona largava às 6 horas e choveu muito durante o percurso; ultrapassei o alemão Rolf Salzman faltando uma milha e consegui me manter em 2º lugar, chegando na frente também do recordista olímpico Frank Shorter, que foi o 4º colocado; pela 3ª vez quem vencia a prova era o americano de origem havaiana Duncan MacDonald, que morava no continente. Essa prova consagrou Bergara, pois conquistou o recorde brasileiro com 2:19:23, apenas 21 dias depois de correr a maratona carioca.
A Maratona do Rio era patrocinada pela Atlântica Boa Vista Seguros, para quem Edson Bergara passou a correr. "Foi nessa época que comecei a ganhar dinheiro e ter oportunidades para competir no exterior; recebia o equivalente hoje a 6 mil reais por mês". Edson correu a Maratona de Boston e por 3 vezes em Nova York e Frankfurt. Em 1989 fez sua última participação em maratonas no Rio, quando foi o 5º colocado com 2h19. Bergara gosta de relembrar as conquistas na Maratona do Rio, e na Mini Maratona da Independência em SP, que venci em 1979 e em 1981 - ano em que José João ganhou a São Silvestre, após 34 anos sem vitória brasileira. "Eu queria muito estar nessa prova, pois estava na minha melhor forma, só que a CBAt me indicou para correr a São Silvestre de Angola, e acabei indo, meio contrariado, mas, não podia negar, sob risco de perder os privilégios que tinha. O que a CBAt mandava, tinha que cumprir, era quase uma missão militar. Em Angola fui o terceiro colocado e fiquei sabendo da grande vitória de José João na São Silvestre apenas na manhã do dia seguinte." Bergara fez história também ao vencer a primeira corrida organizada na USP pela Corpore, de 10 km, em 30:17, que contou com a participação de aproximadamente 700 corredores na tarde de sábado de 15 de maio de 1982.
FRUSTRAÇÃO OLÍMPICA.
Em 1983 Bergara buscava índice para ir à Olimpíada de Los Angeles 1984 e a seletiva foi a Maratona do Rio. "Sofri um violento esbarrão da moto do batedor, que precisou de repente desviar de uma criança; caí e isso me desestabilizou totalmente, acabando na 4ª posição com um tempo insuficiente. Bergara competiu praticamente em todos os países da América do Sul e nos EUA, México, Alemanha, Itália, Espanha e França. Em Boston fiquei amigo de Alberto Salazar que me influenciou a permanecer nas maratonas quando me disse: A maratona é reflexo das provas de 10 e 21 km e não há mágica; se você corre bem essas distâncias menores fará bem também os 42 km. Cheguei a correr 10 maratonas em um ano e subi no pódio de todas."
DISPUTAS SOMENTE APÓS A LARGADA.
Bergara sempre foi brincalhão e descontraído, não se recordando de ter feitos inimigos. Tinha o hábito de tomar um cafezinho antes das largadas, e minutos antes do tiro de partida, ainda na concentração, brincava com os adversários: "Sempre gostei de descontrair antes da prova!" Bergara revelou que apesar de serem seus competidores diretos, se inspirava sempre nos amigos corredores, como José Romão, Eloi Schleder e José João e que nas provas prestava muita atenção em João da Mata. "Eu cuidava muito para me distanciar dele no início, pois da Mata tinha uma espetacular chegada."
Na finalização desta entrevista, o veterano campeão ficou emocionado pela revista estar lhe dando um espaço e o valorizando, e confessou que sentiu despertar a vontade de voltar às provas. Animado, fez a promessa de retomar em breve aos treinamentos e participar de uma prova. E ao ser provocado "que tal a São Silvestre?",
Bergara deu um sorriso tímido e falou baixinho: "Quem sabe? Seria emocionante!"
Vicent Sobrinho - notícias.
22 de novembro de 2013 · Editado ·
Edson Bergara - O Audaz - Acabou de falecer, as 21 horas de hoje, 22 de novembro.
Lutou... como sempre vez em toda sua história de grande atleta e maratonista. Ele foi um dos pioneiros na modalidade, ídolo e muito popular nas maratonas quando iniciava seu crescimento em participações no Brasil.
Bergara representou o Brasil dentro e fora do pais e em diversas vezes elevou o nome do Brasil e foi muito respeitado. Edson Bergara, foi para mim e para muitos de minha geração uma espécie de homem imbativel, de campeão .. aquele que nos serve de espelho, que nos dá vontade e honra de seguir.... assim ele foi e continuará sempre sendo o mais esperado corredor a chegar para uma largada...
A cima: Vicent Sobrinho - notícias.
Edson Bergara começou a correr em 1972
vítima de câncer!
Edson Bergara, corredor brasileiro falecido dia 22/11 de câncer abdominal aos 60 anos, nasceu em Itapevi, SP. Hoje vamos saber um pouco mais da carreira deste maratonista, que foi um dos mais importantes para o Brasil.
O início de sua carreira foi nas corridas de rua. Foi de “bicão” na primeira corrida em 1972, por insistência de um amigo que era atleta no EC Corinthians. A prova em Carapicuíba tinha 7 km e fazia parte de um circuito nos bairros realizada pelo jornal Gazeta Esportiva. Edson logo de cara sentiu o gostinho da vitória em seu primeiro desafio e aos 18 anos se consagrou, ao vencer quase todo aquele circuito.
O ex-atleta conquistou mais de 2 mil troféus em seus 30 anos de carreira, um dos mais importantes deles o do vice-campeonato da primeira Maratona do Rio de Janeiro.
Vergara tinha como principal característica a explosão na largada, quando rapidamente se distanciava dos outros competidores. Foi ele um dos primeiros corredores a ter patrocínio fixo no Brasil, o que o permitiu participar de inúmeras provas por todo o país.
Além de competir em praticamente todo o território nacional, Bergara destacou-se também longe do país. Foi ele o primeiro representante brasileiro a conquistar bons resultados na Maratona de Boston e Nova York. Em 1981, completou a prova da Grande Maçã em 2h05, seu melhor tempo até então, feito que o levou à 23ª colocação.
Vice-campeão da primeira edição da Maratona do Rio, vencida pelo americano Greg Meyer, em 1980, Bergara tinha como melhor participação na São Silvestre a sétima colocação, alcançada no mesmo ano. Além disso, foi o terceiro atleta brasileiro a completar uma prova de 10 km abaixo dos 30 minutos, quando anotou 29min45s para ficar com o título do Troféu Brasil de 1979.
informaçôes:http://www.ocorredor.com.br.
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